PELAMORDEDEUS !!!!

Eu havia me proposto a não falar em nada neste blog que não se referisse a culinária e gastronomia mas... lendo a revista Pais e Filhos deste mês (eu compro ela mensalmente), e na qualidade de psicopedagoga, fiquei HORRORIZADA com o que o Dr. Leonardo Posternak denuncia, a creio que TODAS AS MULHERES QUE SÃO MÃES vão pensar o mesmo! Então, "deliciem-se" com o absurdo que é isso, e se acharem que devem, passem adiante para que mais gente tome consciência da gravidade da "situation". 

Dr. Leonardo Posternak


Pai de Luciana e Thiago, é pediatra há 37 anos, presidente do Instituto da Família (IFA) e membro da comissão de saúde mental da Sociedade de Pediatria de SP








"Apesar de você, amanhã há de ser outro dia..."



Birra virou doença. Será que todas as crianças estão doentes?


O título do artigo tomei emprestado de uma canção de Chico Buarque, de 1978, que de maneira sutil denunciava a ditadura militar – nela se vislumbra uma saudável oposição e revolta.


A lembrança, tanto da música quanto da conduta opositora, surgiu em mim quando, nas últimas semanas, foi publicada em jornais de São Paulo uma notícia estarrecedora: um grupo de notáveis psiquiatras, aqueles que classificam doenças e avalizam tratamentos, declara (não se sabe a partir do quê) que as famosas birras infantis serão incluídas na próxima Classificação Internacional de Doenças (CID), exatamente como isso, uma doença!


SENHORES (SUPOSTOS) DONOS DO SABER: DEIXEM AS CRIANÇAS E AS FAMÍLIAS EM PAZ. NÃO TENTEM MAIS UMA VEZ PATOLOGIZAR O QUE É NORMAL. AINDA MAIS A BIRRA, UMA MANIFESTAÇÃO AGUARDADA E NECESSÁRIA PARA O BOM DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE INFANTIL. AS BIRRAS FAZEM PARTE DOS PEQUENOS CONFLITOS E DAS CRISES PREVISÍVEIS NO CICLO VITAL DO SER HUMANO.


O maior perigo dessa interpretação organicista, rígida e engessada, além de criar bruxas onde elas não existem, é que, com certeza, algum laboratório vai inventar um medicamento para tratar um sinal normal e muito conhecido na pediatria. Assim o círculo se fecha: além de patologizar, vai se medicar perigosamente as crianças.


Se a birra é doença, chego a uma conclusão terrível. Há 40 anos cuido de crianças que, entre os 15 e os 36 meses aproximadamente, apresentam birras. Sendo assim, estariam todas doentes. Quanta bobagem! A birra se trata com uma postura adequada dos pais. Como muito seria um sintoma que, se persistir, seria por uma educação deficiente.
Estou ciente de que, quando um prédio em construção desaba, a responsabilidade por negligência é de um engenheiro em particular e não da engenharia – portanto, não devemos generalizar, não é a psiquiatria que estou criticando, e, sim, um grupo de psiquiatras tão irresponsável quanto o engenheiro mencionado. Um aviso aos participantes da nefasta teoria: cuidado, pode ser que alguém decida classificá-los como uma doença no próximo CID.
Retirado da Revista PAIS E FILHOS deste mês.